sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Fernando Pessoa no Big Brother

Imagino a cena, em um exercício plus ultra qualquer possibilidade:

O diretor do BBB, examinando centenas de vídeos de candidatos a "brothers", escolhendo as personagens-padrão: a loira bunduda, o homossexual, o negro, o homem do interior religioso, o descoladinho, a moderninha, o fortão intelectual do jiu-jitsu, a sapatinha e alguma vítima social estilo bené da silva. De golpe, por um surto metafísicoalocubráticoamorfótico, lhe chama a atenção um franzino míope, um cisquinho de sujeito, um quase entregador de leite dos anos 20. Dito ser humano declara, no vídeo, a razão de sua postulação a ser "brother" numa única frase, em forte acento lusitano:

- Estou a apresentar-me pois de literatura já não se vive mais.

É um certo Fernando Pessoa.

O diretor do BBB acha engraçado o sotaque do moço, mas deixa pra lá, afinal, é apenas alguém sem atributos visíveis. Não é sarado, não representa minoria pra provar que a TV é democrática, não fez acrobacias, não dança funk, não cantou nada, não desmunheca, não acredita em Nossa Senhora Aparecida.

É apenas um tal Fernando alguma coisa.

O mundo já não quer o bom. O mundo apenas precisa do útil.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tenho lido. FP no BBB é um ótimo exercício contrafactual... De dar inveja em René Magritte.
Continue!
Meu abraço,
Dawisson

Anônimo disse...

Tenho lido o blog. Está melhorando dia após dia, acredite. A crônica sobre FP no BBB tem a verve literária. Gostei.

A propósito, acho que você gostará de ler isto aqui: http://blogdoseditores.blogspot.com/2008/01/esquerdismo-dos-antigos-e-dos-modernos.html

Abraços,
D.