quarta-feira, 24 de setembro de 2008




toco-te os limites
por entrar
em superfícies não percorridas;

teu gosto é meu
reconhecimento
de sabores queridos,
teu ventre
é meu ventre desconhecido,
teu sexo é meu encontro
com meu retorno perdido,

e é doce doce
morrer cada segundo
por viver mais vida
vivida no mundo,

tem romã, cactus, paisagem boa
e estação de trem, tem gaita,
tem ar, tem vento em paz na praia,
tem, também, amoras e tem além
café,

porque há, pairando acima
do ordinário da vida,
o extraordinário de ti.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

a teladela seria...





toda a tela guardaria
o traço dela no mundo,
entre linhas e meridianos,
entre tatos e acalantos,
sua figura fulgura céus
e encobre de luzes recatadas
cada ínfimo pigmento
que a querem prisioneira;

imóvel, na pintura, dança a dança
das alegrias sutis,
baila nas cores todo beijo
de 5 mil aquarelas em festa;

por tanto ser-lhe rara a pose
posa em recolhimento,
quase em prece,
por custar-lhe muito
ser absoluta e musa:

depois de todas as tintas tentadas
é nela que habita
minha tela perfeita de mundo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

tulipas são rosas sutis







são poemas em pleno campo de recolheita.

e bebendo
da vida
sorveu a essência
dela mesma,
e violou as regras,
e questionou os óbvios,
e rompeu 3 mil harmonias cínicas;

e tragou o tabaco
raro da coragem de ser si,
apenas si, ela mesma,
toda em si, em fá,
em lá maior,
em orquestração de solo
seu;

e assim,
sendo si, somente,
fez-se entender:

abram alas
para a inteireza
que fica, passar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008




o amor é
daqueles de esconder;
pode estar em sonetos,
em barcos,
na gravata do mickey
ou pairando no ar;

ar com amor
é perfume;

sem-rumo, sem norte,
a não ser
o abraço dela,
o amor quer sempre
ser bússola em primavera,
baile a dois na esquina da Lua,
guerra de flores nalguma rua,
confusão boa
no enorme acontece;

o amor é assim:
quando se vai
nem sobra
eu mesmo
em mim.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

poemasmeus-1002





voltar sozinho
à cama
é retroversar todo abraço;

a cantilena de que vale
mais mesmo
amor sofrido, é para a média;

quero o embrulho
espetacular
do amor necessário e junto;

voltar sozinho
é como ir-se
levando apenas metade da língua.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

poemasmeus- 855





esvazio-me amores de ontem
e bebo do ventre perfumado dela;

toda dança naquela pele
me flutua o dia,
é como era
ver de pequeno
o primeiro cavalo-marinho;

o sabor do absurdamente novo,
a cor bem-vindíssima,
a recrença no credo
perdido de mim;

assim, saída do amanhã,
ela vem recolhendo
meus sinais de anteontem,
minhas faces fotoelias,
meus keds, meu almanaquedisney,
meus aromas mirabel;

comer daqueles lábios
será
provar muito de mim,
mas com outra língua
noutro céu de boca,
meus sabores interpretados,
todas as letras em melangé;

quero a doce confusão
daqueles olhinhos de bom tumulto;

amor novo que vem,
que seja muito
tudo
seu lago em mim.



reflexão herética-parte 96

Dizem por aí, aos berros em templos e em adesivos horrendos em carros evangelizados que deus é fiel...ora pipocas, é fiel mas ama todo mundo, então seria de pensar sobre uma fidelidade assim megapoligâmica divina. Se uma mulher resolver ser fiel como esse deus, seria chamada de megaputa intergaláctica.

Aí recebo mails de seres dogmatizados ameaçando minha pobre e desimportante alma com a fúria divina e de novo me pergunto, pô, mas deus não perdoa tudo de todo mundo? Fúria divina? Cacilda, eles não afinam o discurso. Fúria divina ou perdão incondicional? Seja como seja, vejo nas religiões um antro de patifes alimentados por uma multidão credulamente desesperada e obviamente pouco instruída, mesmo os falaciosos teólogos doutos e versados sobre o Verbo. Quem fez o verbo, aliás, fomos nós, e com o verbo CRIAR geramos deus, que nos deve esse imenso favorzão.

Então, antes de enviar um mail sobre como serei tostado no inferno (lugarzinho aliás onde a pretensa onipresença de deus não é omni coisica alguma), pensem em quem nasceu primeiro, as palavras ou a personagem?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

poemasmeus- 99999




antes dela,
o prenúncio de todo
o ar
que ela, em sua chegada,
arrebataria;

o grande amor em íssimos
se anuncia:
façamos o silêncio solene,
recolham as vestes todas das janelas,
que as ruas sejam ladrilhadas de espera boa,
as paredes pintadas com a cor nova
de saudade enorme e finalmente
descansada;

ao chegar, amor amor,
plenifique tudo nosso.