segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Prefiro Garfield que Marilena

Leiam abaixo a excelente resposta que meu post em defesa do livre pensamento gerou no blog Clausewitz com Limão. Volto depois.


Não leia porque não sou Millôr
Todos nós nascemos livres para pensar o que quisermos. De fato, em alguma medida, macacos, cachorros e alguns outros animais também são dotados da capacidade de pensar. Conheço homens que conseguem pensar menos que meu cachorro de estimação ou que o famoso Amin, do zoológico de Belo Horizonte.
O homem criou um locus de pensamento desde os primórdios de sua história e este locus foi a academia e/ou liceu, onde algumas pessoas, inclusive nomes como Millôr Fernandes, frequentou. Talvez não tenha obtido titulações das mais altas e talvez não precisasse disso mas, com certeza, figuras como o acima citado, podem ter sido orientados, educados, tocados pelo pensamento de algum ph "alguma coisa". Será que este mesmo indivíduo não aprendeu nada com algum ph "alguma coisa"?
O mendigo do documentário "Do outro lado de sua Casa", que se intitula auto-didata, é menos importante que Millôr, ou eu? E Millôr, por acaso, vale mais que 10 mil "deu"?
Leviandade é desmerecer o esforço de algumas pessoas que dedicam sua vida à ciência, que se diferencia das demais formas de conhecimento somente pelo método. Não somos representantes da verdade absoluta e inquestionável, até porque ela mesma não existe, assim como não são os pastores, nem os colunistas, ninguém e muito menos o senhor.
Engraçado é o que esta rejeição aos acadêmicos provocou na sociedade brasileira. Enaltecem-se pseudo-intelectuais, estes que afirmam e não demonstram em jornais de referência nacional. Muito bom, posso falar a vontade e o que quiser e não preciso demonstrar nada. Enaltecem-se colunistas, cuja preocupação está em erudizar aspectos mais triviais do cotidiano. Enaltecem-se celebridades efêmeras, atletas e outras milhares e milhares categorias de pessoas, enquanto os acadêmicos são... acadêmicos, teóricos...humpf.
Separam-se os mundos. Nós, ph "alguma coisa", ou não, somos o que?
Muito teóricos, né? Então foda-se Darwin, Einstein, Newton, Maquiavel. Foda-se Kant. Foda-se o francês que estudou, se graduou, se titulou e desenvolveu o seu confortável Peugeot. Os acadêmicos não servem para nada. Para que nos esforçamos para estudar, escrever, pesquisar, se 1 Millôr Fernandes vale dez mil desses. Somos uns otários. Charlatões. Se as pessoas descobrirem isso vão parar de fazer faculdade e aí nós estamos fudidos. Se bem que os otários são aqueles que pagam para nos ouvir.
É por estas e outras que nosso país elege governantes como os atuais e vai ficar assim enquanto alguns enaltecerem alguns papéis e algumas realizações em detrimento de outras.
Pense à vontade. Mas pense algo: se não for eu, e mais meia dúzias de ph "qualquer coisa", se preso, vai andar na parte de trás do camburão. Se não for por mim, e mais meia dúzia de ph "merda nenhuma", não vai obter o "diproma" e, sem ele, vais fazer o que? Tente trabalhar na ONU, OEA ou para El Magnífico Rey de España. Já sei, vai continuar livre-pensando e lendo muito Millôr. Aí, agradeça a professorinha do pré, que te ensinou pelo menos a ler.


Postado por Clausewitz com Limão às 7:28 PM

Concordo com o prof. Rafael Ávila em alguns pontos, discordo em outros. Quando afirmei que um Millôr vale mais que dez mil pós-doutores, esqueci de dizer que vale mais para MIM.

É que, pese os indiscutíveis avanços da ciência em benefício da humanidade, acho chato ler tese disso, dissertação daquilo, porque a maioria delas é uma repetição meio sacal de autores que são citados quase obsessivamente. A preocupação com a correção das fontes supera o espaço para a criatividade do texto quase sempre.

O que me incomoda na academia não é o conhecimento nem os benefícios oriundos dele. Nem o esforço de quem rala pra obter títulos, diplomas e seja lá o que mais inventarem para dizer nas apresentações de palestras.

O pernilongo da coisa é que a academia universitária termina por cometer os mesmos equívocos de postura que as religiões. Criam ritos iniciáticos, decidem regras de mérito e impregnam-se de uma torrente de dogmas, mas não entregam nunca o paraíso que prometem.

A diferença entre um doutor brilhante e um livre-pensador brilhante é apenas ritualística. Não há como mensurar, por parâmetros meritórios, quem é melhor que quem. Mas a academia, de modo geral, se considera melhor. Porque há, depois dos rituais iniciáticos adequados, o papelzinho que autoriza alguém a dizer as coisas em nome do senhor conhecimento.

Menas, né..menas.

A coisa que pega é ver doutores em Letras que não sabem falar o idioma que ensinam, doutores em sociologia que apenas repetem o discurso mítico guevariano e muitos e muitos pós-doutores que jamais colocaram as doutas ancas numa cadeira de empresa e cismam de ensinar administração, ou mkt, ou seja lá o que for.

Justamente alguns doutores acham lindo o Luis Inacio não ter diploma.

Justamente alguns doutores criaram o gás mostarda, a bomba atômica e a câmara de gás.

A cadeira elétrica.

Freud não era doutor, era médico graduado.

Carlos Drummond, José Saramago, nunca foram.

A professora que me ensinou a ler foi minha babá, que nem tinha segundo grau ( sim, eu nasci pequeno-burguês, não graças a deus, mas graças ao esforço do meu pai).

Tem a academia do bem e a academia do mal.

Vá a uma palestra nalguma universidade para comprovar essa mumunha. Começam pelo puxa-saquismo ao palestrante, é claro. Sempre fulano é brilhante, mestre naquilo, doutor naquiloutro, Phd e o escambal, pessoa do bem, gracinha de menino, etc, etc, etc.

Aí, mais das vezes, vem a palestra previsível, com milhões de citações de outros fulanos, que na verdade servem para que a platéia suponha que o palestrante realmente sabe do que está falando e leu todos aqueles livros.

É mais desfile de ego retórico que destilação de conhecimento interessante, rico, estimulante, memorável.

Há exceções. Claro que há. Mas são, pessoa leitora, exceções.

Não sei quem é mais pseudo-intelectual. O doutor estreito ou o não-doutor amplo. Mas dizem que os pseudos são aqueles pobres diabos que não passaram pelos ritos autorizatórios da academia.

Pois digo que se pseudo é o que falsamente se pretende ser algo que não é, vejo mais pseudos nas universidades.

Como disse certa vez um brilhante aluno de Letras em Coimbra, nos idos dos anos 90, a um palestrante doutor que girava ao redor de seu próprio ego..." pois deixa-te a petulância de lado, tira estas misérias de diplomas da boca e fala alguma coisa de serventia, ó pá".

Boa parte dos acadêmicos quer , na verdade, transformar sua paixão intelectual em solidez infalível. É como uma corrida enlouquecida, onde o que se pretende, de fato, não é ensinar, mas ser mais foda que o outro, ser o supra sumo da vez, publicar mil textos em mil lugares, para, no futuro, deixar de citar e passar a ser citado.

A academia vira uma corrida de revezamento de papagaios.

A preocupação não é se o aluno aprende, ma se ele admira quem, em tese (opa), está ensinando.

Tem academia que parece mais gincana dos anos 80.

Por isso que, para euzinho, Millôr, Saramago e Cervantes dão de goleada.

São universais, porque sem amarras dogmáticas.

Curiosamente, hoje é a Universidade que reproduz aos não-doutores a máxima de Carlos V, que condenava "esa funesta manía de pensar". Falta atrevimento na academia.

Que possam pensar e dizer o que pensam os não iniciados na ritualística dos magisters.

Por isso, vale mais um livro do Millôr nas mãos que mil teses esvoaçantes na estante.

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